Autora do fenômeno “A garota no trem”, Paula Hawkins
vem à Bienal do Rio com o mais recente “Em águas sombrias”
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Autora do fenômeno “A garota no trem”, Paula Hawkins vem à Bienal do Rio de 2017, onde conversa com fãs no sábado, 2 de setembro. Ela lança no Brasil seu livro mais recente, “Em águas sombrias”, romance no qual investiga como as memórias confusas do passado podem enganar e influenciar o presente.
Na pequena e fictícia Beckford, no interior da Inglaterra, o rio que atravessa a cidade é praticamente personagem da trama. É num lugar específico do rio, conhecido como Poço dos Afogamentos, que Nel Abott é encontrada morta. Outras mulheres já morreram ali, o que vem acontecendo há mais de um século, e Nel vinha se dedicando a um projeto sobre as histórias destas mulheres. Apesar do aparente suicídio, uma investigação é conduzida pela polícia. Jules, a irmã de Nel, é obrigada a voltar para a cidade de onde saiu há muito tempo. Ela precisa cuidar de Lena, a filha adolescente da irmã. Voltar para aquele lugar não é fácil para Jules, dona de um passado cheio de traumas.
Para narrar as histórias de Nel, Jules, Lena e de outras tantas mulheres de Beckford, Paula Hawkins assume as vozes de diferentes personagens, intercalando capítulos sob os pontos de vista de diversos moradores da cidade. Com a mesma escrita frenética e uma abordagem crua dos instintos humanos de “A garota no trem”, mas de forma ainda mais complexa e sofisticada, a autora mostra que, sob a superfície calma de uma pequena e pacata cidade, sempre há histórias traumáticas do passado.
“Eu gosto da visão que as mudanças de perspectiva podem proporcionar; a forma de ver um evento pelos olhos de diferentes personagens muda nosso entendimento daquele evento, nos dá uma ideia melhor do que realmente aconteceu ou até levanta dúvidas em nossa mente, não apenas sobre o evento em si, mas sobre a motivação dos personagens em contar a história”, explica Paula, em entrevista de divulgação. “A história é narrada por múltiplos pontos de vista, embora dessa vez eu tenha bem mais perspectivas e seis narrativas diferentes em primeira pessoa. Necessariamente essas narrativas não são confiáveis, como toda narrativa em primeira pessoa. Todo mundo mente, exagera e esconde, em maior ou menor escala”, diz.
Além de falar sobre memória, Paula Hawkins mais uma vez conta uma história sobre mulheres. A autora é hábil em unir tramas de suspense com alto sucesso comercial à discussão de temas relevantes e contemporâneos. Se em “A garota no trem” abordou os relacionamentos abusivos e as nuances da maternidade, neste “Em águas sombrias” fala sobre machismo e misoginia em suas mais diversas formas, e da maneira que a sociedade ainda enxerga e silencia as mulheres.
“A garota no trem” já vendeu 20 milhões de exemplares pelo mundo, e 300 mil apenas no Brasil. O livro inspirou um longa-metragem homônimo, protagonizado por Emily Blunt e sucesso de bilheteria. “Em águas sombrias” também já teve seus direitos de adaptação vendidos para a DreamWorks.
Aquele verbo, que pronunciei com total desconforto. Você não se jogaria. Nunca, jamais, não é assim que se faz.Você me disse isso. O penhasco não é alto o suficiente, você disse. São só 55 metros do topo até a superfície da água – as pessoas podem sobreviver à queda. Então, você disse, se estiver determinada, se estiver determinada mesmo, precisa tomar certas providências. Mergulhar de cabeça. Se estiver decidida, não pode se jogar, tem de mergulhar de cabeça.
E a não ser que esteja determinada, para que fazer uma coisa assim? Não dê uma de turista. Ninguém gosta de turistas.
As pessoas podem sobreviver à queda, mas isso não quer dizer que vão sobreviver. Aí está você, afinal, e não mergulhou de cabeça. Caiu em pé e eis o resultado: suas pernas estão quebradas, sua coluna está quebrada, você está quebrada. O que isso significa, Nel? Que perdeu a coragem? (Nem um pouco a sua cara.) Que não conseguiu conceber a ideia de cair de cabeça e desfigurar o seu lindo rosto? (Você sempre foi muito vaidosa.) Não faz sentido para mim. Não é típico de você fazer o que disse que não faria, ir contra si mesma.”
Paula Hawkins trabalhou como jornalista durante 15 anos. Começou na literatura escrevendo livros românticos sob o pseudônimo Amy Silver. “A garota no trem” foi seu primeiro thriller, e sua estreia sob seu nome real, e vendeu 20 milhões de exemplares em todo o mundo.
Tradução: Claudia Costa Guimarães
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